Eu era demasiado nova para saber esta data de cor e lembro-me que só te dava os parabéns quando alguém me lembrava.
Naquela manhã de Agosto preparávamos o presente dos teus 47 anos. Nunca o chegaste a saber. E eu nunca mais esqueci que o teu aniversário é a 16 de Setembro.
Numa conversa cujo tema era o post abaixo, um colega disse-me que já tinha notado isso em mim, nas muitas coisas quotidianas, naquelas que fazemos todos os dias e que mal notamos. Sugeriu que começasse por aí. Fiquei a matutar naquilo e sim, ele tinha toda [todinha, todinha] a razão.
Só por coisas, no outro dia, quando fui ter com duas colegas, resolvi ir sozinha e levar o carro. Pedia sempre alguém que fosse comigo ou pedia boleia quando o destino era aquele local. Não estava habituada a conduzir e tenho bem presente a minha azelhisse para tal coisa, além de ter o sentido de orientação de um sapo. Sim, podia-me perder [mas isso faria com que conhecesse lugares novos, ruas novas e aprendesse um novo caminho para o mesmo lugar]. Cheguei bem ao local e a casa cheia de orgulho de mim própria. Um medo vencido! Ontem fomos jantar a um restaurante de fast food onde costumo ir habitualmente. Perguntaram-se logo se ia ser o costume. O costume é a unica coisa que provei ali. Gostei daquele menu na primeira vez que lá fui e por aí fiquei sempre... sei que é bom e não corro o risco de ficar com fome ou da comida me saber mal [detesto quando o jantar ou uma refeição não me sabe bem, pronto]. Ontem resolvi experimentar outra coisa... podia não gostar é certo, mas podia estar a perder um sabor novo também, podia estar a perder algo ainda melhor do que a refeição que habitualmente me sabe bem. E não é que o jantar me caiu incrivelmente bem?!
Sei que esta minha mudança e esta minha resistência ao novo se prendem com as coisas que já vivi. Decepções que me custaram ultrapassar, discussões e palavras que me magoaram, acontecimentos que me marcaram... mas que fizeram de mim aquilo que sou hoje, isso é inegável. São pequenas metas sim... mas deixam-me incrivelmente satisfeita. Com isto a confiança em embarcar em algo há muito tempo guardado na gaveta, começa a germinar... Eu chego lá... sei que sim!
Ontem, em conversa com duas amigas, durante o jantar [antes do cinema] e tendo em linha de conta o que ia sendo dito, reparei que, de há uns tempos para cá, eu mudei. E não tenho a certeza se foi para melhor. Não que me tenha tornado pior pessoa ou coisa que o valha, não. Apenas noto que perante determinadas situações respondo de forma diferente daquela em que acreditava há um par de anos atrás. Criei limites e saio cada vez menos da minha zona de conforto, não sei se por um medo qualquer ou por comodismo. Seja qual for a razão não é boa [pelo menos para mim]. Noto que antigamente punha um pouco mais de loucura nas decisões que tomava, não que não fosse ponderada, porque sempre o fui, mas também era um pouco mais inconsciente, ou seja: não pensava tanto, não me prendia tanto em racionalismos nem ficava ali numa análise minuciosa antes de uma qualquer decisão.
Não sei o que me levou a ser assim: se a minha auto-exigência desmedida [fico nervosa quando as coisas me fogem do controlo, o que acaba sempre por acontecer a qualquer altura. Já que ninguém nunca consegue controlar sempre tudo], o facto de ter assumido outras responsabilidades... se tudo isto junto ou mais alguma coisa. O facto é que agora não interessam nada os motivos. O que interessa é que de facto aconteceu. E a verdade é que eu estou muito bem. O meu emprego, apesar do salário médio, é seguro [coisa rara por estes dias], os dias decorrem sem sobressaltos entre casa-trabalho, trabalho-casa e de saúde também não tenho nada a apontar. Sou uma afortunada portanto. Mas tudo isto traduz-se em rotina. Aquela malvada que nos retira o sabor dos dias e nos põe em modo automático para responder aos desafios que nos aparecem sempre. Todos os dias. Todos iguais.
E é essa a causa da minha letargia, da desmotivação e do desanimo de que me tenho queixado ultimamente. Preciso de abraçar desafios novos, de sair da minha zona de conforto e de quebrar a rotina...