Stand by
Quando estou em dia não, ou pelo menos quando não estou nos meus melhores dias e alguém repara e comenta, a resposta que mais me sai é: ‘’Estou cansada!’’ No fundo é como os comprimidos LM, serve p’ra tudo! E não deixa de ser verdade na quase totalidade das vezes.
Por exemplo, agora estou cansada de andar cansada. Precisava mesmo de parar para descansar, mas como a altura e as mudanças não ajudam e eu recusei tirar férias nestes dias, a coisa (e o cansaço) vai-se arrastando. E eu também. Eu também me vou arrastando.
Só que às vezes batia (e bate) uma inércia e uma ansiedade no peito que eu nem sabia muito bem definir. Era um misto de medo, cansaço (lá está), incerteza, ansiedade e impotência. Assim tudo junto, num mix poderoso que me tornava o coração tão pesado que chegava a doer.
Ontem, ao olhar para a estante de livros e pensar que daqui a uns dias vou estar a empacota-los, resolvi escolher um para ler (sim, tenho muitos livros por ler) e dei por mim a recusar um ou outro título porque queria lê-los depois, com mais calma na casa nova. E no outro dia, arrumei umas blusas por passar a ferro no fundo da gaveta, porque não fazia sentido estar agora a passa-las para depois amarrotar tudo de novo nas mudanças. Resumindo, talvez estes sentimentos todos (a inércia, a impotência, o cansaço) sejam provocados pelo facto de ter a minha vida em stand by. Agora não vou comprar isto porque ainda me falta aquilo. Agora não vou pôr isto porque primeiro tenho que fazer aquilo, mas também não posso fazer aquilo agora porque não sei quê… E quem me conhece sabe que a paciência e a capacidade de espera não são propriamente qualidades a enumerar na minha pessoa.
Ao menos hoje é sexta, o sábado de amanhã promete sol e um adiantamento razoável nos trabalhos; e consequentemente uma nova visão da situação. Talvez passe as blusas a ferro para usar no domingo. E leve para a cama um bocadinho do Lobo Antunes.