Old Angela
Sinto-me uma velha. Ponto.
Não uma daquelas Sras de 98 anos, adoráveis, cheias de memórias e histórias para contar. Conselhos sábios sobre a vida e sobre o resto, sapiência e mezinhas caseiras. Nada disso – porque geralmente quem chega aos 98 anos, são pessoas de bem com a vida, pessoas que rejeitam maleitas com a força e a alegria de viver.
Sinto-me daquelas velhas, mais velhas do que a idade que têm. Das que passam a vida a ver o copo meio vazio e o lado triste de tudo.
Ai as costas, ai o fígado, a vesícula e a artrite, mais a cabeça e que já não é o que era e os outros que não querem saber. Mais a crise e uma série de desgraças que apregoam umas às outras numa espécie de ‘’vamos ver quem é mais infeliz’’. Não que eu me queixe muito (tento não o fazer), mas o que é certo é que o meu cansaço, aquele que eu vou fingindo que não sinto, mais as preocupações às quais eu, respirando fundo digo que não são maiores do que eu agora uniram-se contra mim e deixaram-me ko.
Assim sendo, cá vou eu, do alto da minha velhice no fim dos meus 26 anos: Ai as contraturas, as pernas inchadas e doridas, as dores de cabeça e de costas; mais a crise e o ordenado que não dá p’ra nada. E o mês que é tão grande...