Bom ano, pai!
Nunca fui capaz de te perceber muito bem... Nunca sei quando é que te vais rir, ou calar... tenho medo é que grites... Gritas sempre, tens sempre razão, sabes sempre tudo (ou finges que assim é, e eu acredito mais nesta ultima possibilidade!).Estou tão cansada! Vem aí o ano novo e eu, como toda a gente vou fazendo planos, juntando esperanças, lançado projectos... Mas hoje, não consigo deixar de ter um em especial: Quero uma casa! Alugada, comprada, não interessa! Quero um cantinho, onde possa ter tudo aquilo que não tenho contigo! Um sofá para pousar o corpo cansado quando chego de te ajudar, uma janela para abrir e entrar o sol, um chão de azulejos frios para pousar os pés... tempo para ficar em casa sem fazer nada, para ver as parvoíces que passam na tv, para ler um livro qualquer... um canto para ir no fim do dia... porque quando acaba o dia, eu nunca quero ir para casa, nunca quero voltar, nunca tenho para onde ir...
Ontem disseram que passaste mal a noite... eu de tão cansada que estava não notei... Fiquei preocupada, furiosa porque tu sabes porque é que isso aconteceu, sabes bem como evitar, sabes sempre... E eu sei que precisas de mim, mas eu estou cansada, triste... desculpa!
Hoje foi mais um dia assim... Não precisavas de ter dito aquilo, de me ter tratado daquela maneira, de me ter feito sentir assim... Não é justo e tu sabes disso!
Mas logo iremos estar todos juntos, festejamos o novo ano, à nova oportunidade de fazer aquilo que não fizemos até agora, de fazer muito mais até... E eu, embora no meu íntimo e com grande sentimento de culpa, desejarei ir-me embora, sair de ao pé de ti, mas em vez de o fazer, abraçar-te-ei e brindarei contigo!
'-Bom ano, pai!'