Cobrar pelo nosso trabalho
Hoje, aproveitando o feriado, passei a tarde com uma amiga de anos. Daquelas amizades improvaveis que sobreviveram ao passar dos anos e até à distância.
O dia foi por isso bem passado. Passeamos pela baixa da cidade do Porto, comemos um gelado, pusemos conversas e confidências em dia e é claro, aproveitei para mais uma comprinha para o enxoval da Maria Inês :)
No meio da conversa, expliquei-lhe da dificuldade que tenho em cobrar pelo meu trabalho. Quando num dos empregos que mantenho ainda se atrasam no pagamento, toda eu me enervo só de pensar que tenho que ligar a pedir que me paguem. Suores frios, nervos, vontade de chorar, humilhação, raiva... sei lá. É tão violento para mim que confesso que às vezes prefiro nem o fazer e ficar sem receber, o que depois gera alguns desentendimentos cá em casa. O homem, como é óbvio lá me sacode e me obriga a fazer a cobrança que, como é óbvio me é devida e eu não tenho nada que me sentir mal em faze-lo.
É que se depois não o fizer, todos aqueles sentimentos de que falei atrás, passam a frustração, tristeza e levam a uma quebra da auto-estima e à total desvalorização do meu trabalho e consequentemente de mim própria, que só me prejudicam.
Essa minha amiga deu-me um abanão. Ou então não, uma vez que não me disse nada que eu já não soubesse. Que eu deveria valorizar o meu trabalho. E cobrar por ele. Pelo meu tempo, pela minha experiência e por tudo o que eu passei apara aprender a fazer o que faço.
Isto porque ultimamente também me têm aparecido várias pessoas a pedir-me ajuda em coisas da minha área. Problemas que não sabem como resolver, situações em que o mediador não lhes dá a resposta que procuram ou não as informam correctamente. Em todas estas situações, eu tenho ajudado a resolver, mas confesso que me sinto sempre um pouco mal por me prestar a isso, sem receber nada em troca. Muitas vezes nem o reconhecimento do trabalho, uma vez que após o problema resolvido, nem por isso se fidelizam ou se tornam clientes. Sei que tenho que mudar este padrão de comportamento. Porque, para chegar onde cheguei, perdi tempo, estudei, gastei dinheiro em formação, trabalhei durante anos... e para fazer o meu trabalho, uso o meu tempo, a minha disponibilidade, os meus recursos... Gosto do meu trabalho e não seria sincera não assumir que o faço bem. Porque sei que faço. Por isso, não devia mesmo ter problema nenhum em precifica-lo e valoriza-lo. Senão, quem o fará?