Do dia de ontem...
Nunca liguei muito a celebrações do dia da mulher. Fui jantar com um grupo de mulheres uma unica vez e apenas porque fui arrastada na altura pelas minhas irmãs. Foi um jantar divertido, mas para mim não teve nada a ver com o significado do dia. Nem esse jantar, nem quaquer outro, com rosas à mistura, gritinhos histéricos e um strip manhoso à mistura.
Todos os dias me levanto de manhã e ato o cabelo num coque enquanto tomo o pequeno almoço ou lavo os dentes. Assim, com o rosto bem à vista... apenas porque nasci do lado menos errado do mundo, não tenho que me tapar. Ontem, enquanto fazia isto tudo, corri pelo feed do facebook e vi a minha sobrinha de 6 anos, divertida com a mãe numa viagem à Disney... foram juntas. Tal como eu, nasceu do lado menos errado do mundo e por isso hoje já foi à escola. E não vai ter que casar um dia destes com um homem muitos anos mais velho.
Ouvi gente a dizer que esse dia não faz sentido. E muito bem. Ouvi gente a valorizar o dia e muito bem também. Porque nascemos do lado menos errado do mundo, somos livres de pensar e ter opinião.
O dia faz-me sentido porque a desigualdade de género, os abusos, a violação e violentação das mulheres ainda é uma realidade neste mundo. E não é só do lado errado, é do lado menos errado também. Há uma semana atrás, noticiaram que funcionários de associações supostamente humanitárias obrigavam as mulheres a prestarem favores sexuais em troca de ajuda e ainda hoje eu não consigo pensar nisto sem me eriçarem todos os pelinhos dos braços.
Percebo o caminho que ainda há a percorrer quando me acontecem coisas como as que descrevo no post abaixo. Se fosse o pai no meu lugar, eu era a primeira a incentivar e a dizer que sim, que o bebé ficaria bem. Mas eu sou a mãe e por isso, apesar do pai me ter encorajado da mesma maneira, eu própria sinto uma culpa por ter aceite que não consigo descrever. Ainda há muito a mudar, mesmo por aqui, pelo lado que ainda não pode ser considerado o lado certo do mundo. Só um pouco menos errado.