Do perdão...
Ás vezes pergunto-me se serei mesmo capaz de perdoar.
Ou se serei uma daquelas cabras insensíveis, com ares de sonsa, que sim, que sorri e diz que passou, mas que à minima picada de um alfinete, ainda que intencional, vai buscar até o que foi dito a vinte e coiso do mês tal no ano de xis aquelas mesmas horas. Acontece-me, de facto.
Isso e a incapacidade latente de voltar a confiar, de voltar a dar-me. De voltar a dizer sim, vamos lá, de pensar que afinal conto contigo... o instinto de dizer não, manter uma distância que considero de segurança porque lá está... já me falhaste uma vez e doeu, e pronto, voltamos ao inicio: aquilo que deveria ter passado, afinal não passou.
Mas a verdade é que quando eu digo que já passou, a minha vontade é essa mesma. Sou sincera nesse ponto... quero mesmo que tudo tenha passado, quero mesmo perdoar, deixar para lá, esquecer... digo-o com sinceridade. E ainda que me lembre depois das coisas, numa nova discussão ou desavença, lembro-me que era suposto ter passado! (Quando a discussão aquece, sou perita em ir buscar memórias destas e usa-las que nem chumbos, o que é uma merda e me faz sentir uma puta rancorosa...)
Pergunto isto, porque num destes dias mais depressivos (e por falar nisso, também já deram as boas vindas ao Outono, já??), a minha memória subitamente encheu-se de mágoas... coisas que supostamente eu teria entendido que já passaram, que foram conversadas e que não era suposto doer ainda. Mas doem... e afinal ainda estão cá.
Outra coisa é a forma como estas coisas nos condicionam... coisas que me foram ditas que volta e meia me fazem eco, e mesmo que eu saiba que não são verdade, que a pessoa em questão (e sim, neste ponto há mesmo uma pessoa e algo especifico) fez o melhor que pode e soube e nunca, mas nunca mesmo eu tenha duvidado do amor que nos unia; e por muito que eu saiba e entenda que a fase em questão não foi mais fácil para nenhum de nós dois, a verdade é que dói e que existe aqui alguma mágoa... porque me condiciona e eu sei que não devia. Porque sempre que me lembro do que foi dito, demoro apenas nanossegundos a perceber que tal não é verdade, mas esses nanossegundos, parecem eternos quando duram...