Trabalho
Uma das coisas que mais me tem ecoado na cabeça nos ultimos tempos é esta questão do trabalho. Do que quero fazer, do que gosto de fazer e do que sinto ao fazer.
Há uns tempos, decidi ser primeiro mãe e concentrar-me em viver esta fase em pleno e depois pensar nisso. Porque felizmente eu tenho essa possibilidade. Mas a culpa meu Deus, a culpa de estar em casa em vez de estar fechada num escritório 8 ou 9 horas por dia... Culpa essa que é só minha e que só eu a ponho em cima dos meus próprios ombros. Sei que devia era estar grata e acreditem que estou de facto... Mas por outro lado há esta velha questão da culpa.
Há mais de um ano tomei a decisão de me demitir de um emprego que em nada me fazia feliz, muito pelo contrário. Era um emprego que me deixava infeliz e no qual fiquei doente... um emprego que me tirava tempo, saúde e disponibilidade para as coisas que realmente me faziam bem e feliz. Acreditem que nem por um segundo eu me arrependo dessa decisão e ainda hoje me lembro da alegria que me rebentava no peito e a tremenda sensação de leveza e liberdade quando finalmente me vim embora.
Aquilo que sei neste momento é que não quero mais trabalhar num lugar que me tire saúde, tempo para viver as minhas pessoas e as minhas coisas e no qual me sinta desmotivada.
Durante esse tempo, resolvi lançar-me por conta própria na mesma área onde trabalhava, porque no fundo, eu gostava das funções, por isso lutei tanto. Investi em formação, falei com pessoas, esperei e desesperei, sonhei e fiz as coisas acontecerem... Mas agora, volvido mais de um ano, olho para a caixa de e-mails, para o telefone, para as pessoas e pergunto-me se realmente é isto que eu quero para mim, ou se só estou nesta área porque é aquilo que eu sei fazer e não o que eu efectivamente gosto de fazer.
Olho para o pai da minha bebé e vejo-o a SER aquilo que faz. Olho para amigas minhas, para o E. e sei que eles estão no lugar certo, são felizes no que fazem e já me disseram que sim e sempre foi aquilo que quiseram ser ou fazer (e eu, que os conheço há anos, sei que é verdade) - e como eu os admiro tanto! Eu vim parar à minha área quando procurava o primeiro emprego para conciliar com os estudos à noite... Acabei por ir ficando e aprendi as funções, o funcionamento, a legislação e como movimentar-me nisto e acabei por gostar de facto... mas a verdade é que não tenho a certeza absoluta se gosto o suficiente para fazer disto a minha vida; e no meio disto tudo, tenho é medo de voltar a passar pelo mesmo.
Uma parte de mim diz-me para respirar e ser mãe primeiro. Daqui a uns tempos, pensar no assunto.
A outra não consegue deixar de lado esta inquietação.