Vidas pequeninas
Tenho uma colega que durante muito tempo foi alvo da minha inveja.
Não me orgulho de confessar isto, mas é a verdade.
Ela e o marido num emprego estável, com ganhos bons para a média que vemos vendo por aí, um filho atinado… era quase o sonho americano vivido aqui no burgo. Mas depois, em conversas e convívio percebi que não é bem assim. Há toda uma ostentação do que não é verdadeiro, toda uma vida que é só pequenina.
Vive-se a falar do trabalho e do filho, a resmungar do quotidiano só porque não se tem mais do que isso. Não se vive para mais, logo há que crer (e fazer crer) que o que se tem é o ótimo. Para esconder todo o resto que é vazio.
Às notas do filho responde-se a querer saber quanto tirou A e B, porque isso é que é importante. Não que se seja bom, mas que os outros sejam um pouco piores. O trabalho é desvalorizado porque fulano ganha mais… e a vida que afinal parecia perfeita, é apenas pequenina. Medida ao sabor da vida dos outros.
Menos mal… afinal a invejosa nem era eu.
E eu não queria uma vida assim.